sexta-feira, 28 de setembro de 2007

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Abertura do último dia do evento.

No último dia do evento: o setor de Tecnologia da Informação no cenário atual de Pernambuco

O seminário “Inova: Educação e Tecnologia como propulsoras da economia: perspectivas, desafios e oportunidades para o desenvolvimento econômico” chegou ao terceiro e último dia levantando a questão do setor de Tecnologia da Informação e o contexto em que ele está inserido em Pernambuco. Mais uma vez a necessidade de uma melhor qualificação profissional esteve em evidência e foi pauta de discussão. A programação durou o dia todo e contou com a apresentação de dados de pesquisas sobre a atual situação do setor de T.I. no Estado e mesas de discussão.

No início da manhã, Francisco Saboya, presidente do Porto Digital, apresentou, em primeira mão, o resultado de uma pesquisa amostral feita este ano e concluída ontem que serviu como uma espécie de mapeamento das dificuldades para o crescimento da área de T.I. no Estado. A pesquisa, realizada pelo Porto Digital em parceria com ADE Brasil (Academia para o Desenvolvimento da Educação), escutou três universos: empresas de T.I. localizadas na RMR; instituições (públicas e privadas) de ensino e ONGs que realizam cursos capacitações e treinamentos na área; e estudantes de T.I.. Das 93 empresas existentes, 54 foram entrevistadas. Das 36 instituições locais, 27 foram ouvidas. Dos 5 mil alunos, 315 foram escutados.

O resultado trouxe informações imprescindíveis para o entendimento do atual cenário de T.I. e de uma problemática existente no Estado. De acordo com os dados apresentados, o que se pode observar é uma expressiva falta de sintonia entre os três universos pesquisados. No quesito da formação profissional, essa falta de entendimento ficou bastante evidenciada. Para o mercado, o aluno que chega das escolas não têm condições de empregabilidade, 63% das empresas acreditam que as instituições não formam bem os alunos. Já 93% das instituições de ensino acham que estão cumprindo bem o papel formando adequadamente os estudantes. Os alunos, por sua vez, em 75%, concordam com as instituições.

“Esse quadro de assimetria condena o setor de Tecnologia da Informação a uma ineficiência estrutural. Tem que haver uma sintonia entre os centros formadores e o mercado de trabalho”, disse Saboya. De acordo com o presidente do Porto Digital, diante da falta de preparo dos jovens da área que chegam ao mercado, as empresas acabam tendo que investir na capacitação, o que para os empresários isso representa um gasto a mais. Os cursos de formação profissional são muito altos no Recife.

Ainda de acordo com a pesquisa, as empresas acreditam que falta conhecimento, prática e atualização com o mercado de trabalho, na formação profissional dos alunos. Apesar disso, para a maioria dessas empresas o curso que melhor forma o estudante é o de nível superior. Sobre os profissionais da área, o estudo revela que cerca de 70% vem de escolas privadas. Em relação à empregabilidade, 66,7% dos profissionais da área estão empregados, e 89,5% trabalham na área de T.I. A maioria dos profissionais entrevistados está em seu primeiro emprego, trabalhando há um ano ou menos, e desempenhando a mesma atividade do início.


O trabalho também apresentou outros dados interessantes como, por exemplo, a representatividade econômica do setor no Estado. No universo empresarial, o faturamento, em 2006, do setor de T. I. foi de R$ 679 milhões. Até setembro de 2007, o setor empregou 12.066 profissionais, sobretudo em empresas que desenvolvem software e sistemas, e que prestam serviços, fazem capacitações e consultoria. Outra informação curiosa da pesquisa foi a pouca participação da mulher nesta área. A mulher representa apenas 29% dos trabalhadores das empresas, enquanto que os homens somam 71%, uma realidade registrada também nas universidades.

Edmundo Godoy inicia o debate.

Mesa 1 - Após a apresentação de Francisco Saboya, uma mesa de discussão foi formada para comentar os dados da pesquisa. Dentre os participantes: Edmundo Godoy de Mendonça (presidente da ASSESPRO/PE – Associação das Empresas brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet); Joaquim Costa (diretor-presidente da Agência Estadual de Tecnologia da Informação); Alexandre Mota (coordenador do curso de Ciências da Computação do Centro de Informática da UFPE); e Jeyvison Andrade, do diretório acadêmico do curso de Ciências da Computação da Universidade Católica de PE.

A primeira palavra foi de Edmundo Godoy que falou das dificuldades que os empresários do setor enfrentam no Estado: “a gente está fazendo mágica para manter as nossas empresas. Sabemos que a tecnologia é promissora para o futuro do Estado, mas ao mesmo tempo, por exemplo, estamos rezando para conseguir vaga, pelo menos, para fazer a 2ª ou 3ª linha do Porto de Suape. A realidade é que as nossas empresas não têm qualificação para isso”. De acordo com Edmundo, a discussão sobre o perfil dos profissionais da área é muita antiga, equivalente à idade do setor.

“Se o mundo evolui, o perfil do profissional tem que evoluir também. A gente tem que ter profissionais preparados para fazer muitas coisas com inovação. Emprego existe desde que os estudantes se preparem”, acrescentou o presidente da ASSESPRO-PE. Comentando a pesquisa, Godoy falou sobre a importância do conhecimento de língua estrangeira: “A questão da língua inglesa e espanhola é muito importante. Daqui a alguns anos a maioria dos nossos clientes vai ser de fora. Se não houver uma política pública para incentivar a capacitação dos profissionais, fica difícil”.

Joaquim Costa, diretor-presidente da ATI, seguiu a discussão falando da importância de debates como este para o melhoramento do atual quadro em que se encontra o setor de T.I. Falou, também, da função que a ATI desempenha no Estado, da responsabilidade de regular a parte de informática e da escassez de profissionais da área nas próprias secretarias do Estado. Mais uma vez foi batida a tecla da má formação profissional. “A competência profissional é formada por conhecimento técnico e de gestão, habilidades e atitudes. Apenas o conhecimento técnico não é suficiente”, disse Joaquim Costa que concluiu lançando a pergunta: “Será que as universidades, hoje, se preocupam com essas outras questões?”.

A resposta ficou por conta do estudante Jeyvison Andrade: “Existe um abismo sem fim entre as universidades e o mercado de trabalho. Falta comunicação e um planejamento entre os agentes formadores, as empresas e governos no sentido de políticas de ensino que ajudem a transformar essa realidade”.


Jeyvison seguiu falando das dificuldades que os estudantes da área enfrentam no mercado de trabalho: “como podemos suprir essa falta de experiência exigida pelo mercado, se o mercado não oferece estágios suficientes?”. O estudante falou, ainda, dos altos custos para se fazer especializações: “Além de nos formamos, temos que fazer cursos por fora, que custam muito caro. Poucos alunos têm condições de pagar”.

Alexandre Mota, coordenador do curso de Ciências da Computação do Centro de Informática da UFPE (CIN), começou a explanação comentando dados da pesquisa e falando um pouco sobre o contexto em que se encontra o CIN. “No ano passado, numa leva de 75 alunos, apenas 04 vieram de escolas públicas”, disse o coordenador que em seguida acrescentou que a universidade tem se esforçado para mudar essa realidade, lançando programas de incentivo para inserção desses alunos da rede pública. Alexandre falou, também, sobre a preocupação da universidade em oferecer o que o mercado está querendo. “A evolução técnica cresce muito rapidamente. Existe uma preocupação nossa em oferecer disciplinas mais avançadas para atender o mercado, o que já vem sendo estudado”, disse Alexandre Mota.

Início da 2ª Mesa

Mesa 2 – A segunda mesa de discussão teve como tema central as políticas públicas da área de T.I. em países emergentes. Em pauta, questões como: De que forma o setor se comporta em economias emergentes? E, fazendo um comparativo, como está o Brasil em relação aos outros países? Na formação da mesa: Dennis Foote (diretor de tecnologias aplicadas da Academy for Educational Development); Carlos Ferraz (presidente do Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife): e Arnóbio Gonçalves de Andrade (secretário-executivo de tecnologia e inovação em educação da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente).

Dennis Foote começou a explanação mostrando recortes de três notícias de jornais estrangeiros. Um deles falava sobre a consulta rápida de banda larga no Reino Unido, onde a tecnologia da informação fica nas mãos de empresas privadas e o governo atua como órgão regulador. Uma outra notícia falava dos EUA, e apresentava duas declarações: uma defendia a aplicação de impostos para as empresas de T.I., e a outra pedia um maior incentivo para área. O terceiro recorte de notícia falava do potencial da China e da Índia, que se juntaram e vêm obtendo um crescimento contínuo de T.I. De acordo com Foote, a Índia tem pessoas capacitadas em T.I., já a China não possui. No entanto, os trabalhadores chineses podem atuar bem na área de software. Ambos estão se esforçando para juntar os dois países e entrarem na competitividade mundial. Dennis acredita que o Brasil também pode crescer no setor de T.I.

Para Foote existem fatores que impedem o crescimento do setor, tais como: o fraco investimento, as políticas inadequadas, burocracias excessivas, educação ineficiente. “É necessário a construção de uma melhor infra-estrutura, com a participação dos setores públicos e privados. É preciso preparar os estudantes para daqui a 15 anos, investir na educação nacional e em pesquisas, implementar programas e políticas públicas para atrair negócios e investimentos”, disse Dennis que, em seguida, deu o exemplo de sucesso que a Nigéria vem alcançando após uma reformulação no setor de tecnologia do país, onde agora são investidos cerca de 2% do orçamento nacional para o desenvolvimento da área.